Por Eliane Davila
Um dos assuntos mais comentados hoje em dia é o empreendedorismo feminino. Fala-se sobre o assunto em todos os meios de comunicação e em diversas áreas de atuação organizacional e acadêmica. Contudo, a questão é muito ampla e se conecta com debates que envolvem o social e o econômico de nossas sociedades.

É interessante observar que as premissas de paridade de gênero perpassam as relações de poder e com isso o empreendedorismo feminino torna-se uma forma de inclusão da mulher no meio laboral. O fato é que não é tão simples assim falar sobre a inclusão das mulheres nesse campo de poder que valoriza culturalmente um modelo de gestão patriarcal.
O que as pessoas esquecem é que ao incluir as mulheres no empreendedorismo, elas que são a metade da população mundial, estamos trabalhando para toda a sociedade, permitindo que homens e mulheres estejam presentes nestes ambientes laborais, de forma igualitária, elevando o PIB das nações.
Sei que olhar para o passado desnuda uma fase de muitas dificuldades quanto à inserção social e econômica da mulher no mercado de trabalho. Neste texto eu prefiro trazer uma visão mais positiva da questão, dizendo que estamos vivendo um momento de transição de valores sociais e econômicos, onde as mulheres estão iniciando um processo mais consciente de tomada de espaço, de luta pelos seus direitos e de valorização pessoal.
Sei que não posso ser ingênua em dizer que a paridade de gênero e a igualdade de direitos da mulher nos espaços laborais e de empreendedorismo estejam solucionadas. O triunfo acontecerá quando entendermos que existe um trabalho interno, em cada um de nós, na busca maneiras de entender, o empreendedor ou a empreendedora, como um ser literalmente humano, com suas necessidades e potencialidades individuais. Assim, estaremos construindo uma sociedade mais sustentável.
Mas o que é uma sociedade mais sustentável? Sociedade mais sustentável tem a ver com a construção de nações mais equilibradas entre o masculino e o feminino, mais preocupadas com o meio ambiente, além de todas as características individuais do ser humano que derivam desse desdobramento temático.

O empreendedorismo feminino sugere considerar que as mulheres empreendedoras, em suas atividades profissionais, possam contribuir para o desenvolvimento social, econômico e ambiental em seus contextos de atuação. O poder de escolha e a autonomia humana corroboram para o fortalecimento identitário dessas mulheres e cooperam para mudanças sociais que valorizam a equidade de gênero. Busca-se, dessa forma, pensar sobre os espaços de interações dialógicos para redução das assimetrias e desigualdades sociais e econômicas a nível mundial e regional. Assim, esta visão mais humanizada do empreendedorismo feminino permitiria ir ao encontro de todas as dimensões do ser humano (social, cultural, econômica), no intuito de entender, com maior amplitude, o trabalho como atividade humana.
Os diálogos sobre o empreendedorismo feminino apontam para a necessidade de realizarmos esforços para que as mulheres que desejem se dedicar ao empreendedorismo feminino encontrem menos barreiras, mais apoio e estejam preparadas para este desafio.
Sabemos que empreender sugere colocar a mulher em um status de protagonista de sua vida. É claro, que seria impossível dizer que a mulher é totalmente livre no empreendedorismo, mas acredito que em muitos momentos, essa construção para uma possível liberdade é realizada. A liberdade humana não é algo que se conquista em sua totalidade, mas algo que se busca no decorrer da vida.
Assim, eu poderia dizer que um pássaro que voa no céu azul, que possui suas asas em perfeitas condições, chegará ao seu destino com maior leveza e rapidez. O pássaro, nesta história, é cada nação. As asas representam o masculino e o feminino, ou seja, a mulher e o homem, em igualdade, trilhando o mesmo caminho, em busca das melhorias sociais e econômicas de cada uma dessas nações. A analogia é simples, mas contempla profundidade e complexidade de análise que sugere um novo olhar para o ser humano.
Deste modo, empreender também está relacionado com essas transformações que ocorrem dentro de nós e que deixam impactos nas nossas empresas e em nossas sociedades. Assim, para as mulheres, parti-se do pressuposto de que a ação de empreender vai muito além da atividade de trabalho, mas também está vinculada à expressão da sua singularidade e da sua identidade no mundo.
Não é à toa que dizem que o futuro é feminino. Eu não tenho dúvida de que com o aumento da participação e representatividade da mulher no empreendedorismo, poderemos ver as transformações acontecerem e teremos sociedades realmente mais sustentáveis. Que assim seja!