Coffee and Work

Por Gislene Feiten Haubrich

Comunicação é um daqueles temas dos quais falamos constantemente. Atualmente, refere-se a uma das qualificações mais demandadas para o trabalho. Frequentemente é apontada como fonte de problemas e dificuldades em relacionamentos. Enquanto comunicadores natos – humanos que desenvolveram essa habilidade de uso das linguagens – todos nós devíamos olhar para e melhorar o modo como comunicamos. Entretanto, ao longo do nosso percurso de formação, vamos esquecendo – se é que aprendemos – o que é e como comunicar.

O processo de comunicação, por muito tempo foi resumido da seguinte forma:

O emissor faz uso de um código para enviar uma mensagem, por meio de um canal, para o receptor.

As palavras marcadas em negrito representam termos básicos para qualquer pessoa que estuda comunicação. O que fica evidente com essa perspectiva é apenas uma das partes envolvidas tem o controle sobre o processo: é o emissor quem escolhe o canal e o código para construir sua mensagem e enviá-la ao receptor. Linear e simples. Será que essa definição ainda atende às situações complexas que experimentamos no mundo de hoje?

Vamos pensar em nós enquanto emissores. Quais perguntas temos de responder para interagir com esse esquema, para além de sua mecânica?

1) Com quem eu tenho de interagir? Quem é o receptor?

2) Qual o código que nós dois compartilhamos? (idioma, gírias, contexto social, etc.)

3) O que eu tenho de dizer para esse receptor?

4) Qual o melhor canal para dizer o que preciso dizer? (face a face, mensagem de celular, e-mail, post em rede social etc.)

Quando avançamos da mecânica que coloca a comunicação como respirar – algo que fazemos sem perceber e que, por mais preponderante que seja, só é notado quando algo não vai bem (temos falta de ar) – notamos que, como respirar para contribuir com nosso corpo, comunicar envolve muitas nuances e que deveríamos ter mais atenção a esse processo que pode contribuir ou defasar nosso corpo coletivo, a sociedade.

Fonte: Vídeo o que é a Comunicação Organizacional

Antes de avançar, vou dar os créditos da imagem, que é um quadro do vídeo “O que é comunicação organizacional?” (disponível em inglês ou francês) (What is organizational communication? / Qu’est ce la communicacion organisationnelle?).

À esquerda, temos um mago, que define a comunicação como as trocas interacionais que acontecem no cotidiano das organizações como envio de e-mails, ligações, documentos, reuniões, apresentações, videoconferências etc. À direita, temos um robô com um átomo entre suas mãos. O que essa parte da ilustração convida a refletir? Vamos pensar antes de avançar?

Qual imagem temos do que é um robô e sobre as suas habilidades? Em geral, que ele é programado para fazer determinadas coisas, capaz de controlar e seguir as prescrições que lhe foram definidas. E o que é um átomo? É o elemento que está em tudo que representa uma matéria em nosso mundo material. Ele é composto por partículas positivas (prótons), neutras (nêutrons) e negativas (elétrons). Entretanto, o mais interessante dessa analogia, é que o átomo, embora esteja em todos os lugares, não pode ser visualizado, apenas experimentado. O que podemos entender dessa experiência que o robô vem tendo com o átomo? Uma pista seria: não podemos tocar ou ver uma molécula, entretanto, ela está ali, nos desafiando a sua compreensão.

Pois bem, esse é o desafio de entender o que é comunicação, para além das suas ferramentas – e-mail, fone etc. etc. Trata-se de acessar aos níveis mais profundos da relação entre emissor e receptor, respondendo àquelas questões que mencionamos antes. Precisamos aprender a comunicar, quer dizer: a reconhecer nossa interpretação em relação aos fatos e ver como ela está conectada às interpretações que os outros – receptores – fazem desses mesmos fatos.

O vídeo – e essa ideia – pode parecer difícil num primeiro olhar, uma vez que não estamos habituados a pensar na comunicação como um evento constitutivo. Ou melhor, a gente até fala aos quatro ventos que a “comunicação é tudo”, que “sem comunicação os problemas acontecem” ou ainda que “tudo depende da comunicação”. Na prática, comunicar é algo complexo e nós raramente dedicamos tempo para aprender a construir mensagens e, principalmente, entender como elas fazem da realidade o que ela é.

E aqui precisamos ter muito cuidado e, por isso vamos fazer um adendo. Se você quiser avançar para as questões da comunicação diretamente, pule esta seção. Há uma linha motivacional que estrutura sua linguagem numa suposta base comunicacional, mas que, de fato, acaba por manter a visão linear das coisas, numa relação de causa e efeito. Para deixar explícito com um exemplo antigo, mas emblemático: em 2006 o mundo ficou enlouquecido com o lançamento do livro “O Segredo”, de Rhonda Byrne. Muita gente tentou, de fato, colocar um cheque no valor de um milhão de dólares na caixa do correio para atrair dinheiro às suas vidas. Entretanto, eu não ouvi falar de nenhum caso de materialização desse dinheiro na conta bancária de alguém. Atualmente, algumas linhas [questionáveis] da prática do coaching são adeptas do uso de mensagens que culminam por esvaziar o sentido do que é comunicação. Quantas vezes você já viu passar por suas telas frases do tipo: “Se você quiser, você pode”; “Você é o único responsável por suas conquistas e perdas”, e assim por diante. A questão aqui é a linha tênue entre “ok, de fato, as coisas não acontecem sozinhas” e “há um contexto imenso ao seu redor que nem sempre vai viabilizar aquilo que você quer, na hora que você quer e como você quer”. E aqui exatamente entra importância de uma educação para o comunicar: a relação eu e o outro. Reparem eu “E” o outro, não eu “SOBRE” o outro.

Comunicar é estabelecer uma relação de cooperação, colaboração. Uma ilustração simplória, mas bem didática é o zig zag de uma linha de costura: cada ponto depende do ponto anterior. Se um ponto falha, a sequência não segue de modo a manter duas partes de tecido conectadas. Saber comunicar é diretamente isso: nos zigs e zags da vida, é manter os pontos em conexão ou o tecido social acaba por ficar com desprendimentos.

Neste ponto você deve estar se perguntando: tá, bacana, mas como eu aprendo a comunicar, então?

Se você chegou a este ponto do texto com essa questão em mente, já começamos bem. A primeira e, talvez, mais importante etapa do aprendizado é a abertura, a vontade de aprender, o que implica ter em mente que, infelizmente, este não é um fato compartilhado por todos.

Vamos então começar por um questionário básico:

 

E aí, como foi interagir com esse questionário?

Para fechar, podemos fazer um outro exercício: Se você tivesse de descrever a imagem abaixo, como você faria?

Fonte: Pixabay

Como as descrições se aproximam ou se afastam? Vamos brincar e aprender?

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