Transformação digital é um conceito relativamente novo (ou podemos dizer que é uma buzzword?). Uma consulta no Google Trends mostra como a busca pelo termo “transformação digital” aumentou nos últimos anos.

Mas afinal, o que é transformação digital?
Conforme David Rogers, transformação digital não tem a ver com tecnologia, mas com estratégia e com uma nova maneira de pensar. Assim, “transformar-se para a era digital exige que o negócio atualize sua mentalidade estratégica, muito mais que a sua infraestrutura de tecnologia da informação” (ROGERS, 2017).
Podemos dizer que a transformação digital envolve usar a tecnologia para reinventar o negócio principal (core business) da empresa. Para começar, precisa-se assumir que as premissas válidas para a era analógica não são mais suficientes e adequadas para dar conta desse novo cenário digital.
Rogers (2017) destaca 5 domínios principais para (re)pensar a estratégia de negócios: clientes, competição, dados, inovação e valor. Vamos falar rapidamente de cada um deles.
Clientes
Os clientes, na era digital, não são mais consumidores passivos! Hoje, os clientes interagem e ajudam a construir (ou desconstruir) marcas, dialogando com elas e entre si, como pontos em redes dinâmicas. Pense em seu perfil de consumidor! É muito provável que você pesquise a opinião de outros compradores antes de adquirir um novo produto e /ou serviço, certo? Você já “conversou” diretamente com uma marca/ empresa antes de adquirir algo para saber mais detalhes? Você já recomendou algum produto e/ou serviço nas redes sociais? Esse comportamento é cada vez mais comum e evidencia mudanças de perfil do consumidor. Portanto, a transformação digital focada nos clientes destaca a necessidade de criar experiências cativantes durante o processo de compra e de promover ações para o engajamento.
Competição
O segundo domínio da transformação digital destaca a importância de substituir um modelo de competição (entre marcas/empresas), por um modelo de “coopetição”, ou seja, uma mistura entre competição e cooperação. Nessa proposta, as empresas que competem diretamente em algumas áreas também podem ser parcerias em outras. Para tanto, Rogers (2017) propõe que os novos modelos de negócio sejam focados em plataformas.
O conceito de plataforma varia conforme a área, mas Rogers (2017) foca na perspectiva de plataforma como modelo de mercado bilateral, onde a parceria se dá no ganha-ganha. Como exemplo, podemos citar o Airbnb, uma plataforma que depende da confiança entre as duas partes – o anfitrião e o hóspede – e que dá benefícios para ambas as partes. Podemos citar aqui também o Mercado Livre, Enjoei e Alibaba, que reúnem vendedores e compradores de mercadorias de vários tipos, novas e/ou usadas. Os negócios de plataforma estão em todo lugar! Consegue pensar em mais alguns?
Dados
Bom, agora chegou a vez de falar dos dados, o terceiro domínio da transformação digital. O primeiro ponto é: precisamos tratar os dados como ativo estratégico! O desafio é converter os dados em informações valiosas! Além dos tradicionais dados estruturados, que normalmente as empresas já usam, hoje está a disposição dos gestores uma infinidade de dados não estruturados, gerados pelos clientes no processo de interação com a empresa/marca, como a troca de mensagens em redes sociais, dados de localização, e outros. O que leva os clientes a compartilharem dados com as empresas? Bom, Rogers (2017) acredita que a relevância seja o tipo de valor/recompensa oferecida; a presença de relacionamento de confiança; o tipo de dado que é solicitado; e a setor da atividade da empresa.
Inovação
O quarto domínio da transformação digital é a inovação, que envolve o processo de desenvolver, testar e lanças novas ideias no mercado. Se antes, em um cenário analógico, a inovação focava no produto pronto/acabado, hoje as empresas precisam inovar de forma rápida, e isso envolve um processo completamente diferente envolvendo a experimentação rápida. “Ao inovar por experimentação, você não tenta evitar ideias erradas; ao contrário, você procura testar tantas ideias promissoras quanto possível, com rapidez e baixo custo” (ROGERS, 2017). Aplicar a experimentação não é fácil, mas é fundamental e cada vez mais importante para reduzir a incerteza e acelerar o processo de inovação.
Valor
Por fim, o quinto domínio da transformação digital é o valor do negócio para os clientes. Torna-se vital repensar o valor do negócio considerando um cenário em constante mutação. O gestor precisa se perguntar: Qual é mesmo o meu negócio? Ele ainda é relevante? A que necessidade atende? Ela ainda é relevante? Rogers (2017) indica que as empresas precisam avaliar cada nova tecnologia pensando na maneira como isso pode impulsionar um próximo modelo de negócio (e não pensar em como isso impacta o negócio atual).
Para fechar, então, podemos dizer que a transformação digital é um processo que requer pensar de forma diferente. Envolve compreender o cenário fortemente influenciado pelo digital em rede e em constante e rápida mudança, e estar atento às oportunidades!
Pensar na transformação sob a perspectiva da tecnologia é fácil… questionar pressupostos básicos é o mais difícil!

Referências: ROGERS, David. Transformação Digital: repensando o seu negócio para a era digital. São Paulo: Autêntica, 2017. [kindle]

Patrícia Bassani é Doutora em Informática na Educação (UFRGS). Professora titular do Programa de Pós-Graduação em Diversidade Cultural e Inclusão Social na Universidade Feevale, na linha de pesquisa Linguagens e Tecnologias. Pesquisa sobre os usos e as apropriações das tecnologias digitais no contexto educativo.