
Tenho conversado com muitas mulheres nestes últimos meses. Mulheres protagonistas, que se aventuram na área do empreendedorismo no Brasil.
Não são poucas as mulheres que assumiram seus negócios e estão construindo histórias de superação em meio a pandemia.
Quando comecei a investigar mais sobre as narrativas dessas mulheres, perguntando sobre como elas se sentiam como empreendedoras no Brasil, a maioria delas ressaltou que ainda é difícil ser empreendedora no país. A questão aqui recai, em um posicionamento também relacionado ao gênero, preposições que vão muito além das questões econômicas que o Brasil enfrenta.
Quando pensamos em uma mulher empreendendo, estamos congregando dimensões mais amplas do conceito de empreender. O empreendedorismo feminino vem atuar também como uma ação de empoderamento, que traz à tona mais espaço e visibilidade para tratarmos sobre as questões de gênero que nos cerca.
A minha paixão pelo empreendedorismo feminino surge dessa possibilidade de autonomia financeira. Isso parece muito simples, mas se olharmos a história da mulher ao longo do tempo, a invisibilidade, as opressões e omissões vividas pelas mulheres, revelam, em muitos casos, a falta de autonomia econômica e financeira.
É muito curioso, mas a história de protagonismo feminino tem menos de 100 anos. Nossas avós e mães, talvez, não tiveram o espaço que estamos tendo de mostrar nossa voz no mundo. Mulheres que possuem independência financeira, podem sim, obter mais facilidade na protagonização de seus destinos.
Curiosamente, os desafios de um patriarcado continuam aí para todas as mulheres e não seria diferente para as empreendedoras. Embora exista realmente um avanço nas questões de gênero no mundo do trabalho, sabemos que existe muito a se fazer ainda para que tenhamos as mesmas oportunidades que os homens.
A falta de representatividade, em diversos campos do conhecimento deixam claro que a mulher não podia fazer suas escolhas de forma singular. Uma das causas é a falta de recursos para cuidar de suas vidas e de seus filhos com autonomia financeira.
O empreendedorismo feminino vem com essa força de empoderar as mulheres para que tornem-se capazes de decidir o que é bom para elas e para seu entorno. No Brasil, existem diversos movimentos importantes, como As Mulheres do Brasil, Rede Mulheres Empreendedoras que funcionam como uma rede de apoio às mulheres que que querem empreender.
Eu particularmente, venho acompanhando este movimento das mulheres empreendedoras, na busca de entender, com maior clareza, os entraves que ainda rondam os ambientes de empreendedorismo. A migração de mulheres para o empreendedorismo também me fez refletir que os espaços corporativos não são tão amistosos às mulheres. Vivi mais de 20 anos nestes ambientes e sei que, muitas vezes, é necessário, uma força extra de energia para conseguir participar de uma mesa de diretoria ou de algum conselho deliberativo ou governança corporativa.
O empreendedorismo feminino, em muitos campos de atuação, é um ambiente ainda muito hostil às mulheres, mas elas estão rompendo os paradigmas e buscando visibilidade. Não é tarefa fácil, exige autoconhecimento e autoestima desenvolvidos. Não temos como separar o ser que empreende do empreendedorismo, isto é, a empreendedora é a mulher que empreende, com todas as potências e limitações pessoas.
O apoio feminino, neste caso, é fundamental para que a mulher desenvolva suas limitações e potencialize seus talentos. A mentoria pode ser uma possibilidade para o desenvolvimento da mulher empreendedora.
Assim, com essa reflexão, eu deixo meu convite para você, leitor ou leitora, a acolher com amor a causa do empreendedorismo feminino em sua cidade. Mulheres estão em busca de liberdade, de poder encontrar sua essência e serem mais felizes e realizadas. Empreender é difícil, mas eu o enxergo como uma alternativa à quebra de paradigmas de um mundo patriarcal.
Observe as mulheres empreendedoras e a maneira como elas lidam com os seus projetos e seus negócios. Não é à toa que dizem que o mundo é feminino! Nossa potência vai além dos nossos negócios e impacta a vida de muitas pessoas. Juntos, homens e mulheres, no empreendedorismo, com as mesmas oportunidades, é o que quero ver no mundo! Apoie o empreendedorismo feminino!

Eliane Davila dos Santos – Doutora e Mestre em Processos e Manifestações Culturais. Realizou estágio doutoral na Universidade de Málaga (Espanha). Com mais de vinte anos no ramo financeiro, realiza pesquisa no campo do empreendedorismo feminino. É embaixadora do Movimento Capitalismo Consciente Brasil e Mentora de negócios (ABMEN).