Coffee and Work

Por Gislene Feiten Haubrich

Lauren Weber, jornalista que escreve sobre trabalho e carreira para o The Wall Street Journal, publicou uma matéria no dia 02 de fevereiro (de 2019, of course) com o título, “O fim dos empregados”, (tradução livre para “The End of Employees”). A primeira coisa que veio à minha mente foi: opa! Temos um outro ponto de vista vindo por aí.

Na extensa e bem articulada matéria, Weber retrata o que algumas correntes ideológicas tendem a chamar de “precarização do trabalho”: terceirização e outsourcing são a tônica da narrativa da autora. Com menção aos casos da Virgin America, da Wal-Mart e da Alphabet, Lauren destaca a ausência de vínculos empregatícios diretos, em vista da construção de quadros de fornecedores, os principais responsáveis pela operação dos serviços. Para mencionar um dos exemplos do texto, antes da sua venda, a Virgin contava com prestadores de serviço para organização de bagagens, venda de passagens, alimentação, manutenção e outras tantas demandas que são fundamentais para a operação e imagem da empresa.

Mas por que as empresas estão optando por essa configuração?

De acordo com a reportagem, a resposta está no aumento do controle viabilizado por esse tipo de vínculo laboral.

E como essa configuração afeta a vida dos trabalhadores?

Essa reflexão, mais amplamente explorada pelo texto de Weber, destaca: salários mais baixos (óbvio), e a ausência do sentimento de pertencimento, pois o indivíduo fica confuso ao responder a questão mais trivial em círculos sociais: “onde você trabalha?”

E a esses grupos se juntam os freelancers, trabalhador@s com contratos sazonaisempreendedor@s, em síntese: profissionais sem um vínculo formal e duradouro com a organização para quem dedicam seu tempo, seus saberes, seu corpo e sua inteligência. E é aqui que faz sentido a questão que dá início a este texto:

quando falamos em futuro, estamos falando de empregos ou de trabalho?

Se estamos falando de emprego, nosso enfoque está nos contratos, nos vínculos jurídicos que vão ter respingos lá na parte subjetiva do indivíduo. Se estamos falando de trabalho, o calcanhar de Aquiles é o processo, são as escolhas realizadas nas situações e que constituem o grande bloco organizacional, que constroem e ratificam reputações, que garantem sanidade à vida dos indivíduos.

Fica clara a distinção entre emprego e trabalho, assim como fica claro que raramente estamos preocupados com o trabalho. Nossa preocupação constante são as contas, as vantagens, as garantias de que vamos sair ganhando algo materializado no final, ainda que o material tenha uma duração ínfima se comparada com os danos ao emocional, ao subjetivo, à identidade, ao coletivo.

E para você, o que importa? Seu emprego ou seu trabalho?

Publicado originalmente por Gislene Feiten Haubrich em https://bit.ly/2TQiR1c

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