Em 1889, em Paris, durante um encontro da Segunda Internacional (organização formada por partidos socialistas e trabalhistas), instituiu-se o 1º de Maio enquanto momento de rememoração dos protestos realizados na busca por melhores condições de trabalho.

Pouco tempo antes, nos EUA, uma grande greve nacional, que culminou em confrontos violentos, visava a redução da intensa jornada laboral de 15 horas. Até hoje esta data é celebrada em diversos lugares do mundo.
Para além do feriado, do dia de descanso, de organização das coisas em casa ou do lazer, já paramos para refletir sobre a relação entre as lutas que estabeleceram este dia e nossa vida no contexto atual?
De modo mais direto e pessoal, podemos, com sinceridade responder a questão: quantas horas trabalhamos atualmente? Certamente nossa jornada laboral não deixa muito a desejar em relação aos trabalhadores daquela época. Mas qual é a diferença? Qual o sentido de lembrarmos de um dia que visava melhores condições laborais, sendo que hoje, escolhemos livremente trabalhar 12, 15 horas por dia?
Certamente, uma das respostas será: “ah, mas a questão é justamente essa; eu escolhi trabalhar”. Mas ela pode mencionar ainda: “tenho contas para pagar, se não trabalhar, não tenho dinheiro”. Há uma infinidade de respostas possíveis, todas elas legítimas e válidas. Entretanto, o convite é: avance para camadas mais profundas da sua vontade em relação ao trabalho. Será que o trabalho restará nessa camada da produção? Acredito que uma das maiores lições da busca daqueles trabalhadores do século XIX talvez tenha passado despercebida por muitos de nós:
o que realmente significa trabalhar?
Desconsiderar o contexto pode ser uma estratégia perigosa, mas por um instante, se pararmos para avaliar porque escolhemos estar no local que estamos, vivenciar os momentos que vivemos, certamente avançaremos a camadas mais profundas do trabalho em nosso ser. Precisamos ir além da questão de gostar ou não do trabalho. Por óbvio, o afeto investido à relação laboral é fundamental, mas ele não é único.
Trabalhar é parte da vida e está para além da remuneração. O ser que bate o ponto para entrar e sair do trabalho é o mesmo que está ansioso pela sexta-feira. O ser que precisa dizer “não” a alguma demanda de um cliente é o mesmo que precisa dizer “não” para uma injustiça na rua ou para seu filho em casa.
Em síntese, nós congregamos espaços e tempos. Trabalhar é uma atividade humana que requer escolhas e que define quem somos, não apenas no espaço determinado para a atividade produtiva e remunerada. O trabalho define quem somos para além do tempo definido como “útil”. O trabalho implica quem somos em nossa família, escola… em qualquer lugar e a qualquer tempo. Trabalho é aquilo que fazemos a cada minuto, que é permeado de valores e culmina com uma escolha. Trabalho é aquilo que vai formando e transformando o nosso caráter e nossa personalidade. Trabalho não se reduz ao universo financeiro, embora nossas escolhas nos levem a defini-lo deste modo.
Neste dia do trabalho deixo o convite para refletir (pelo menos por cinco minutinhos): como você tem vivido o trabalho?