Por Gislene Feiten Haubrich
10 de setembro: dia mundial de prevenção ao suicídio.
Este é um daqueles assuntos que sempre gera um nó na garganta. Toda a vez que eu ouço uma história relacionada a suicídio, pergunto-me: como alguém pode ter tamanha dor? O sofrimento é um dos fatos com os quais temos de lidar na vida, mas antes de se tornar um fardo insustentável, nós precisamos agir, mostrando que nossa face humana ainda está ali.

No dia 20 de abril de 2018, todos ficamos chocados com a morte do DJ sueco Tim Bergling, ou Avicii. A morte precoce de Amy Winehouse também choca a todos ainda hoje. Estamos falando de casos famosos, mas com base nos dados divulgados, podemos nos perguntar: o que leva jovens a tomar uma decisão definitiva? A resposta pode estar nos valores e perspectivas de vida que estamos criando e propagando por gerações.
De acordo com dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 40 segundos um indivíduo comete suicídio no mundo. O relatório da OMS mostra ainda que esta é segunda causa mais frequente de morte de jovens entre 15 e 29 anos. O Centro de Valorização da Vida (CVV) estima que a cada 45 minutos um brasileiro tira a própria vida. De acordo com os últimos dados divulgados pelo Ministério da Saúde (Brasil), entre 2007 e 2016 foram registrados 106.374 óbitos, sendo quase 70% deles de mulheres. Em uma pesquisa divulgada pelo Centers for Disease Control and Prevention, de 2000 a 2016, a taxa de suicídio nos EUA entre indivíduos com idade entre 16 e 64 anos aumentou 34%, de 12,9 por 100.000 habitantes, para 17,3. Os dados, como podemos ver, são alarmantes. A dor e a tristeza excessiva que levam à depressão são democráticas e podem atingir a todos nós. Precisamos de informação para lidar com esse fato da vida humana.
Os dados da OMS mostram a relação entre região no mundo e renda. Como vemos, Japão, Estados Unidos e França apresentam uma alta taxa de suicídios.
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A OMS ainda destaca que cerca de 800 000 pessoas morrem devido ao suicídio todos os anos. Além disso, acredita-se que há muito mais pessoas que tentam suicídio a cada ano. Uma tentativa anterior é o fator de risco mais importante na população, em geral. 79% dos suicídios globais ocorrem em países de baixa e média renda. A ingestão de pesticidas, enforcamentos e armas de fogo estão entre os métodos mais comuns de suicídio em todo o mundo.
De acordo com a entrevista da a psiquiatra Ana Paula Torres Guedes, do Núcleo de Estudo e Prevenção do Suicídio (NEPS) ao portal Correio 24h, “o suicídio não é sobre morte, é sobre alívio. A pessoa não vê saída, não vê sentido se sente impotente”. Na mesma reportagem, o portal também ouviu a psicóloga líder do Hospital Português, Elisa Silveira Teixeira, para quem “a lógica da produtividade e da aceleração a que estamos submetidos, além do déficit de experiências de subjetividade no trabalho, produzem um cenário de extremo sofrimento”. Nesta mesma esteira,
Mas diante desse cenário, o que podemos fazer?
O trabalho, em sua concepção excessivamente produtivista e monetária, tem sido um dos ambientes propícios ao esgotamento emocional. De acordo com a matéria publicada no portal Terra, em 2016, com comentários de Paulo Zaia, diretor da AGSSO, o setembro amarelo é uma oportunidade para que as empresas avancem nesta pauta da saúde mental no trabalho.
“Mas é preciso ir além, criando mecanismos para ouvir os funcionários em busca de pistas que permitam identificar quem pode ter mais propensão a cometer um ato extremo”, recomenda. Ouvidorias internas independentes em permanente contato com os médicos do trabalho são uma boa opção tanto para mapear como para acolher trabalhadores em busca de ajuda para si ou para algum colega. “O medo de perder o emprego ou as chances de promoção são grandes inibidores, portanto a independência no trato das informações é fundamental“.” (Terra, 2016)
O livro Terapia Cognitivo-Comportamental na Síndrome de Burnout – Contextualização e intervenções, recentemente lançado, contempla uma coletânea de textos escritos por pesquisadores brasileiros e estrangeiros, cujo propósito é promover informações e atualização sobre a Síndrome de Burnout (falamos sobre ela nesse post aqui). O primeiro capítulo (disponível para download no site da Sinopsys Editora), escrito pela organizadora, Anelisa Vaz de Carvalho, apresenta a síndrome e destaca:
“a síndrome de Burnout consiste, notoriamente, em um problema social. Ela exerce grande impacto na economia e nas organizações (decorrentes de turnover, absenteísmo, quedas na produtividade, déficit na qualidade da prestação de serviços) e afeta significativamente a saúde mental e física dos indivíduos (impactando no bem-estar individual e em custos à saúde pública)“. (Carvalho, 2019, p. 34).
Em nossa sociedade, o argumento mais eficaz ainda é aquele que diz respeito aos custos que as situações vividas podem acarretar. Conforme aponta Anelise, os custos às organizações, à saúde pública e à economia são drásticos em uma conjuntura que não dá suporte às dificuldades enfrentadas pelos indivíduos que compõem as sociedades. Mas, para além das dimensão financeira, viver, especialmente no contexto laboral, é relacionar-se, comunicar, aproximar-se do outro para construir com ele realidades mais palatáveis e afetivas, que instiguem o amor à vida e à realização das atividades cotidianas.
O projeto Coffee and Work apoia essa causa, por meio de material formativo que instigue a reflexão sobre as relações no trabalho. Precisamos entender que o trabalho impacta mais questões não financeiras, como a nossa subjetividade, levando-nos a definir nossa conduta e visão de mundo. Nós somos seres sociais e precisamos estar juntos para mudar contextos destrutivos. A escolha é nossa e os frutos dela advindos, também. Mudar a mentalidade para a colaboração, sendo que a competição está tão arraigada em nossa cultura, não é fácil. Certamente, o amargor será o primeiro sabor que virá a nossa boca quando experimentarmos abrirmos ao outro nossos olhos, ouvidos e coração. Mas, uma vez que essa experiência se apresente, o doce sabor das parcerias e da fundação do bem comum serão os novos valores que estimularão as ações no seu entorno.
Assim, fechamos esse texto com algumas dicas da OMS para prevenção do suicídio, para que você, independente da posição, entenda que nós só vamos ter uma realidade com menos dor se lutarmos por ela juntos!
- reduzir o acesso aos meios de suicídio (por exemplo, pesticidas, armas de fogo, certos medicamentos);
- reportagem da mídia de maneira responsável;
- intervenções escolares;
- introdução de políticas de álcool para reduzir o uso nocivo de álcool;
- identificação precoce, tratamento e atendimento de pessoas com distúrbios mentais e de uso de substâncias, dor crônica e sofrimento emocional agudo;
- treinamento de profissionais de saúde não especializados na avaliação e gestão do comportamento suicida;
- cuidados de acompanhamento para pessoas que tentaram suicídio e prestação de apoio comunitário.
Fonte: OMS
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