Por Gislene Feiten Haubrich
Buzzwords são aquelas palavras que usadas indistintamente tornam-se quase sem sentido pelo tanto de significados que passam a receber. Essa expressão, lifelong learning, é uma delas. Entretanto, quando isso acontece, nós temos de fazer o esforço e entender a revolução que, de fato, ela pode significar em nossa sociedade.

Durante minha vida, frequentemente, ouço a questão: “mas tu não vais parar de estudar?”. Várias pessoas que conheço também são constantemente instigadas a responder a essa questão, como se ela fosse um enigma: “mas o que essa gente tanto precisa aprender para fazer sua profissão? Tem gente sem a mesma formação que faz a mesma coisa”.
A gente não pode condenar nenhuma visão de mundo sem antes tentar entender suas raízes. Embora seja uma atitude tipicamente humana, julgar pode [e deve] ser uma tomada de decisão fundamentada em uma reflexão. O que quer dizer que nós observamos, ponderamos com base em nosso conhecimento, para que, só então, possamos emitir uma opinião sobre determinado evento ou pessoa. Um exemplo polêmico sempre é um bom exemplo. As palavras direita e esquerda, no contexto político, foram adquirindo diferentes conotações ao longo do tempo. Quer dizer, como uma cebola, cada uma dessas palavras surgiu com um propósito, um núcleo, mas foi agregando camadas ao longo do tempo que, em certo ponto, até mudaram completamente em relação a sua origem. Sem delongas neste ponto [mas se você quer saber mais, eu super recomendo esse podcast aqui, que faz uma reflexão bem madura sobre o tema, baseada em pensadores ao longo da história], acho que essa introdução já mostra bem o propósito de aprender ao longo da vida, pois implica entender que o mundo muda constantemente, pois assim é nossa relação com ele.
Uma das primeiras questões que temos de ter cuidado ao falar do aprendizado ao longo da vida, é a ideia de que o conhecimento não é, e jamais deveria ser, uma comoditie: sapato é sapato, saber é saber. Só pela complexidade envolvida em cada um deles, já temos noção da sua distinção em relação aos resultados no mundo. O que isso significa? Primeiramente, que conhecimento não é descartável. Felizmente, eu não consigo deletar da mente e do corpo algo que eu tenha aprendido. Em segundo lugar, esse aprendizado que trago comigo é transformado quanto eu vivo outras experiências, como a leitura ou um curso rápido, uma viagem ou voluntariado.
Lifelong learning, enquanto tema, surgiu entre as décadas de 1960/1970 e visava encontrar alternativas laborais para aposentados. Em 2019, sabemos que o aprendizado por meio de fontes, conteúdos e temas diversificados é positivo para o nosso desenvolvimento cerebral e emocional. Além disso, embora ainda tenhamos muitos efeitos de uma visão mecânica do processo educacional: eu aprendo um ofício que exercerei para a vida toda; a ausência de uma única matriz profissional não é razão de escândalo ou sofrimento. A questão do status é uma das razões que nos conduz a pensar nesse aprendizado contínuo apenas no escopo de uma atividade profissional que nós já exercemos e que se transforma com a sofisticação tecnológica. Mas é cada vez mais comum ouvir as narrativas de profissionais com 40 anos que iniciaram a carreira na área de programação, passaram a trabalhar com finanças e que atualmente tornaram-se chefe de cozinha. O que isso implica? Que o indivíduo passa por diferentes processos de aprendizado, que se complementam e constituem-se como diferenciais.
Aprender a aprender é um dos desafios que a realidade impõe. Mas o que isso significa?
De acordo com recursos fornecidos pela ONU/Unesco, aprender implica quatro pilares: saber, fazer, ser e viver juntos. Quando congregamos essas dimensões, além de aprender a aprender, também nos transformamos em cidadãos, quer dizer: capazes de reconhecer, respeitar e transformar nossas relações sociais seja no escopo do trabalho, da família, ou qualquer outro.
Na tentativa de exemplificar a conjunção desses pilares, vamos pensar em um profissional que exerce sua atividade na área de comunicação. O saber implica aquelas questões bem técnicas ou codificadas: operar o equipamento x, organizar uma narrativa com começo, meio e fim, entre outras. Quanto eu sou capaz de reconhecer possibilidades distintas em relação a cada uma dessas ações, eu posso avançar para o segundo ponto e selecionar o modo de fazer algo a partir de critérios específicos demandados no momento. Então, posso construir minha narrativa de diferentes modos, ainda que esteja claro que a lógica textual demanda três grandes etapas. Entretanto, essa seleção do modo de fazer não é vazia de sentido, mas está conectada com a nossa capacidade de viver em conjunto com o outro, considerando suas necessidades, dificuldades e anseios. Por fim, somos, por meio de nossas escolhas, parte desse complexo mundo e contribuímos com ela por meio dessa forma de apreensão, aplicação e retroalimentação do processo de produção de conhecimento.
Lifelong learning nos implica e instiga que nós busquemos aprender a todo momento congregando as experiências vividas nas mais diferentes fontes de conhecimento: formal ou informal. Nesse caso, para além de um sentimento de jamais concluir o aprendizado está a possibilidade de aprender a vislumbrá-lo sob diferentes perspectivas. Aprender ao longo da vida, não implica apenas uma especialização em um tema, mas antes o oposto, a sua tensão mediante as nuances que o transformam. E você, já aprendeu a aprender?
Perdeu a live d’As de Paus? O tema do nosso encontro do dia 30/11 foi Lifelong Learning. Então se você não assistiu ou quer rever, aperte o play e venha conosco.
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