Por Eliane Dávila
Nos dias 12 e 13 de fevereiro de 2020, eu participei do 9º Fórum Europeu de Ciência, Tecnologia e Inovação – Transfiere, em Málaga, na Espanha. Transfiere é um espaço único para impulsionar a inovação entre grupos de pesquisa e empresas, além de contribuir para melhorar a competitividade do setor de negócios. Transfiere permite gerar contatos de interesse, sinergias e intercâmbio de conhecimentos no campo da inovação, pesquisa e transferência de conhecimento nos diferentes setores estratégicos da economia.

Não vou me dedicar, neste texto, a comentar sobre todas as atividades que ocorreram nestes dois dias incríveis, onde pude perceber a sinergia entre governo, universidades, empresas privadas e sociedade civil. Eu vou contar para vocês minhas impressões sobre uma palestra que assisti a partir da perspectiva de empreendedores sobre o que é ser um pesquisador ou pesquisadora.
Primeiramente, confesso que ouvir percepções sobre o que é uma pesquisa, provindas do mundo corporativo, de forma geral, foi muito esclarecedor para mim. Sendo eu, uma pesquisadora, nada melhor que entender um pouco mais sobre a imagem que é construída por empreendedores e empreendedoras a respeito do trabalho de pesquisadores e pesquisadoras.
Na mesa de palestrantes no evento Transfiere estavam presentes diversos empreendedores. Eles mencionaram que, por vezes, os pesquisadore/as possuem certa dificuldade em continuar suas pesquisas após o término do mestrado ou doutorado. Em alguns países europeus, o pesquisador tem mais facilidade na busca por recursos financeiros para evoluir suas pesquisas. No Brasil, por vezes, para pesquisar pouco se tem de investimento. Eu, particularmente, para realizar muitas das minhas pesquisas, tive que investir meu próprio recurso. Essa é a realidade do nosso país, e de alguns países do mundo, infelizmente.
Em alguns países há mais facilidade de cooperação entre universidade, empresas e governo. No Brasil, o/a pesquisador/a acaba não alcançando essa sinergia. A pesquisa, em muitos casos, torna-se uma atividade que o/a pesquisador/a realiza e acaba sem conseguir colocar em prática por falta de recursos ou de motivação para vender sua ideia ao mundo corporativo.
Na palestra de Transfiere, os empreendedores não falavam de falta de recursos, mas evidenciavam a ausência de um comportamento empreendedor por parte do/a pesquisador/a. Eles comentaram sobre a necessidade de o/a pesquisador/a estar mais perto do ambiente corporativo também. Na Espanha é comum que o/as pesquisadore/as participem de projetos dentro das empresas e as empresas estejam representadas por meio de financiamentos e projetos em comum com universidades, prefeituras, etc. Embora, discursivamente, a sinergia ocorra, sabe-se que trabalhar em cooperação não é uma tarefa fácil em qualquer país, mas o importante é ter em mente que a pesquisa pode ser um meio de aproximação entre os diversos ambientes sociais.
O processo de escuta é uma via que pode fazer a diferença. Quanto mais próximos os empreendedores e o/as pesquisadore/as trabalharem, mas propensos à conexão estes espaços estarão. O processo de escuta é essencial, porque quando não se conhece o outro lado, o posicionamento dos diversos ambientes que interagem em nossa sociedade, mais difícil se tornam as relações humanas e a pesquisa acaba não passando para a área prática, justamente o que o mercado corporativo e a sociedade, de forma geral, almejam.
Claro que se sabe que o perfil do/a pesquisador/a nem sempre é empreendedor e nem precisa ser, no meu ponto de vista. Sabe-se também que o/a pesquisador/a nem sempre é humilde na divulgação de suas descobertas, pois acredita que resolverá todos os problemas do mundo com sua pesquisa. Enfim, são muitas visões, muitas ideias e estereótipos que se cristalizam nos discursos da nossa sociedade.
O que penso ser relevante é encontrarmos na pesquisa, tanto empreendedores como pesquisadore/as, uma ponte para a busca de melhorias para nossa vida, nosso trabalho e nosso bem estar como seres humanos. Toda forma de pesquisa é importante para a transformação social. As pesquisas qualitativas merecem nosso respeito assim como as quantitativas. Todos os tipos de pesquisa sequem um método e um rigor científico. Adentrar neste labirinto da investigação é reconhecer que a geração de conhecimento é essencial para a construção de sociedades mais cooperativas.
Quanto mais participações em eventos e networking realizarmos, mais oportunidades de diálogos serão originadas, contribuindo para geração de conhecimento e inovação. Tenho certeza que diminuir as lacunas entre os ambientes privados, públicos e governamentais farão com que, pesquisadores e empreendedores, tornem-se agentes ativos de transformação social e econômica. Talvez esse seja o caminho para que possamos ser a transformação que queremos ver no mundo. A cooperação e o diálogo podem ser vias de geração de conhecimento para o desenvolvimento sustentável mundial.