Coffee and Work

Comunicação e democracia: dois conceitos que não andam separados. Se um vai bem, o outro também vai. Se um está travado, o outro vai travar também. Na reflexão desta semana, queremos convidar você a avançar na compreensão acerca da importância do aprendizado do comunicar para que os processos democráticos se mantenham e se fortaleçam. 

Caso você queira recuperar alguns tópicos introdutórios, pode clicar aqui e ler o post “O que é essa tal de Comunicação”. Bom, a primeira questão que precisamos ter em mente é: sim, a dimensão política faz parte de todos os níveis de nossa vida. Nós podemos ignorá-la ou desempenhá-la de maneira parcial, mas isso, em si, já é uma escolha política. 

Como assim? Bom, vamos convidar um autor para fazer parte de nossa conversa: Mikhail Bakhtin. Para quem já está familiarizado com a carinha desse senhor, apresentações são dispensadas. Mas no caso de você não nunca ter ouvido falar dele, aqui, no blog da Editora Contexto, você pode conhecer um pouco mais sobre esse filósofo russo.

No livro Para uma Filosofia do Ato, Bakhtin da dimensão política de cada ato praticado por nós em nosso cotidiano. Essa dimensão é sustentada por dois aspectos: a responsabilidade – logo, não podemos transferir para ninguém a decisão que tomamos -; e a responsividade – sempre que agimos, nós estamos respondendo à alguém, ou muitos alguéns, já que nossa ação depende daquela bagagem que temos conosco com nosso aprendizado e experiências.  Nesse caso, quando agimos, nós estamos influenciando também o contexto de onde o nosso conhecimento vem e adicionando ideias a eles, sejam reformulações ou a manutenção das posições. O ponto é: nós não estamos aqui só a passeio, não! Nossas ações estão em interligadas com tudo que está a nossa volta. Por isso, sempre que fazemos alguma coisa, podemos dizer que estamos tomando uma decisão, que será somada e implicará as ações futuras. Nessa conjunção vivida em ato responsável e responsivo, repousa a ideia de política que queremos acionar aqui. Você já deve ter percebido que a comunicação é uma peça chave nesse entendimento proposto por Bakhtin. Mas não é a comunicação setor ou tecnologia e, sim, a comunicação processo.

 

Nesse caso, vale a pena convidar também um outro senhor, o francês Dominique Wolton. Para o sociólogo, uma parte fundamental da comunicação é a incomunicação. O que? Incomunicação? Sim, vamos entender o que ele quer dizer com isso. Em Informar não é Comunicar, Wolton afirma:

Comunicar é cada vez menos transmitir, raramente compartilhar, sendo cada vez mais negociar e, finalmente, conviver

A incomunicação vem dessa necessidade de negociar, pois invariavelmente temos pontos de vista distintos em relação as coisas, das menores às maiores, e negociar significados e compreensões é a base para que se possa conviver. Negociar é um ato ético, responsivo e responsável e, por isso, político.

Infelizmente, noções importantes como democracia e política se esvaziam pela prática corrupta diária. Todos nós tomamos decisões que, por vezes, tentamos dissociar de nossas condutas. Por certo, o que fazemos não pode ser repassado para os demais, embora a lógica da sobrevivência no mundo contemporâneo faça a gente supor que sempre é possível escapar das responsabilidades. Uma hipótese: as dinâmicas dessa sobrevivência em sociedade resultam de nossa covardia frente ao ato político do comunicar.

Mas o que isso tem a ver com organizações? Bom, aqui entra o segundo elemento importante da nossa conversa. Esses coletivos de pessoas que trabalham com um propósito relativamente comum, as organizações, são parte fundamental do tecido social. Existem diversos tipos: lucrativas, sem fins lucrativos, para entretenimento, para formação. Enfim, nossa sociedade é um grande tecido de organizações. E o que garante a sua costura? A comunicação. E aqui vamos retomar a discussão realizada por Stanley Deetz, acerca das formas de se entender as organizações. De acordo com esse autor, há duas dimensões para se observar as organizações de maneira alternativa, para além de seus balanços, constituições legais e de marketing. A primeira, enfoca a produção de sentidos. A segunda, refere-se ais diferentes níveis de inclusão dos interlocutores no processo interativo.

Deetz e Radford criaram uma matriz para materializar essa observação e indicar de que modo as organizações podem reconhecer a si mesmas e definir onde querem chegar. Clica na figura abaixo para conferir.

Nosso enfoque será no quadrante Democracia participativa, já que é o modelo que entendemos que ele está a correlacionado à sofisticação tecnológica que temos atualmente. Sim, vivemos a era em que todos temos o poder o mobile à disposição; que a internet, mesmo que com baixa qualidade, está disponível. Esse contexto nos envolve com a necessidade de construir possibilidades democráticas para seu uso, seja em relação ao acesso ou a qualidade das interações. 

Para ficar mais claro, vamos pensar nas mídias sociais: trata-se de meios altamente sofisticados para as interações, pois garantem rapidez e agilidade. Nesse caso, qual é a nossa posição em relação ao conteúdo nelas publicado? Nossa resposta tem sido efêmera. Por vezes não entendemos o que foi dito e já damos sequência ao processo comunicacional, pois precisamos ser ágeis e eficientes. Mas o que é agilidade? E eficiência? Para onde estamos caminhando com esse tipo de padrão comportamental de resposta às mensagens que chegam a nós? 

Convido você a dar uma pausa em sua leitura para refletir: será que a nossa capacidade de resposta às sofisticadas ferramentas de interação (lives, stories, posts, coments, likes, followers, retweets….) tem seguido a mesma diversidade? Como estamos amadurecendo nesse processo de incomunicação?

 

Para que possamos, no ecossistema organizacional – tenha ele a dimensão que tiver – alcançar a busca por uma democracia participativa, nós precisamos pensar em nossa função política enquanto ser social. A comunicação não é um setor ou uma sequência de orientações que fica guardada na gaveta. Comunicar é conviver. E por isso é urgente o chamado a cada um, ser comunicante, ser que existe: tudo que você faz tem duas dimensões: a responsabilidade e a responsividade. Se pretendemos ampliar a colaboração, o pensamento crítico e ter relações mais qualificadas nos ambientes organizacionais, nós precisamos repensar a comunicação e sua implicação educativa no que se refere às relações de alteridade, ao encontro com o outro. E aí, as pessoas dedicadas a aplicar ferramentas e tecnologias na mediação comunicativa precisam ser pioneiras nesse entendimento e na construção de sentidos em torno dele. Mais ainda, as pessoas que almejam criar seus negócios e sustentá-los em um mundo social mais equilibrado também precisam participar desse diálogo e contribuir na construção de vínculos profícuos entre públicos, que em última instância são PESSOAS.

Temos um longo caminho pela frente e, por isso, queremos compartilhar ideias para construir, colaborativamente, soluções em nossos contextos mais próximos. O que você acha?

Nossa próxima ação é uma conversa sobre tendências e meios de superar os desafios que nós, comunicadores, encontramos diariamente.

 

 

Acompanhe o bate-papo com a nossa convidada especial, a professora Dra. Marlene Marchiori! Acontecerá na próxima terça-feira, dia 09 de junho, às 17h (horário de Brasília – 21h horário de Lisboa). Clique aqui, adicione o lembrete e aproveita para se inscrever no Canal Coffee and Work do youTube.