Coffee and Work

Por Eliane Davila

Desde que terminei minha tese de doutorado, ocasião em que investiguei diferentes dimensões referentes ao empreendedorismo feminino, venho aprofundando os estudos para melhor compreender o ser humano e as suas relações com o empreendedorismo, com a educação, com a arte e com a criatividade humana.  

Um dos meus propósitos de vida é incentivar a presença feminina em espaços de liderança e de empreendedorismo. Ao longo de minha vida profissional pude aprender que o ambiente organizacional é um tanto complexo às mulheres que desejam seguir em atividades onde possam demonstrar protagonismo e autonomia. Muitas vezes, no trabalho que realizei, senti “na pele” o esforço que fazemos para marcar nossa ideia, nossa contribuição e sermos respeitadas.

A ideia, nesta reflexão, é falarmos sobre dois conceitos bem importantes para tratarmos da questão feminina em postos de liderança. O que eu gostaria de dizer é que os recursos estratégicos para removermos ou reduzirmos os obstáculos à igualdade de gênero também passam por esses dois conceitos: Mentorship & Sponsorship.

O que é Mentorship, afinal?

Essa estratégia visa apoiar mulheres na superação de possíveis bloqueios internos pessoais. Nossa sociedade é repleta de regras e de estereótipos que influenciam as mulheres, fazendo-as acreditar que os espaços de liderança empreendedora não são para elas, ou, por exemplo, que elas devem seguir os modelos de liderança masculina e deixar de lado sua maneira singular de gerir a vida e seus negócios.

Quando iniciei meus estudos de doutorado, passei a frequentar diversos grupos de apoio femininos como o Mulheres do Brasil, liderada por Luiza Trajano, e Aceleradora de Mulheres Empreendedoras, entre outros. Durante esses encontros recebi mentoria e também iniciei minha jornada em prol da valorização das mulheres em cargos de liderança e empreendedorismo.  

Sabemos que a cultura das empresas, na maioria dos casos, não valoriza o modelo de gestão feminina, ou seja, uma gestão com mais empatia, cooperação e sensibilidade. Além disso, a própria dupla jornada de trabalho, em casa e na empresa, impossibilitam, muitas vezes, o desfio de se tornar uma líder em uma organização, pois existe um comprometimento de tempo delas com as questões do cuidado doméstico, com os filhos e familiares. Dessa forma, como elas vão dedicar-se a cargos de liderança?

Assim, a busca por um ambiente mais receptivo ao protagonismo e à autonomia humana tem levado muitas mulheres ao empreendedorismo feminino. No empreendedorismo, elas têm mais chances de “serem elas mesmas”. Dessa forma, acredito que o conceito de Mentoring torna-se fundamental, pois o processo de sororidade proporciona apoio às mulheres e ao exercício do enfrentamento das crenças que enfatizam que negociar, gerir financeiramente uma empresa ou realizar um planejamento estratégico de carreira não é “coisa de mulher”. Infelizmente, a sociedade julga muito o posicionamento feminino e potencializa, assim, em muitos casos, a insegurança da mulher e seu afastamento dos cargos de liderança.

Quando falo em Sponsorship

… penso nas estratégias que as empresas podem realizar para auxiliar a redução das lacunas de gênero dentro das organizações. Nesse caso, as empresas promoveriam o caminho livre para o desenvolvimento das mulheres, principalmente em cargos de gestão e liderança.

Sabemos que são poucas empresas que realizam essas ações em prol do desenvolvimento feminino, mas entre elas podemos citar: Accenture, Carrefour, Home Care e Pepsico, conforme ONU Mulheres. O objetivo do Sponsorship é descobrir quais são as barreiras que impedem a mulher de evoluir, de ocupar determinados cargos de gestão.  Permitir que em todos os níveis da empresa, as questões femininas sejam discutidas, criando espaços de diálogo e sinergia.

A conscientização dos impactos positivos de uma gestão feminina para toda a organização, poderia levar à geração de política culturais organizacionais e a programas voltados ao desenvolvimento de mulheres em posições de liderança, o que contribuiria positivamente para a mulher e para a empresa. Existem muitas pesquisas acadêmicas que defendem que empresas geridas por mulheres possuem resultados econômicos e financeiros iguais ou melhores que as empresas geridas por homens. Além disso, quando falamos em mulheres na liderança, não podemos esquecer que as nações que possuem mulheres a sua frente, como por exemplo, Jacinda Ardern (Nova Zelândia), Angela Merkel (Alemanha), Erna Solberg (Noruega) e Katrín Jakobsdóttir (Inslândia), tiveram melhores resultados no combate à pandemia do coronavírus.

Enfim, os conceitos aqui discutidos são importantes para a construção de ambientes mais receptivos ao feminino. Sabemos que são muitos os motivos que levam a mulher a abdicar de certas posições de liderança, mesmo assim, elas estão construindo seus espaços no mundo organizacional e empreendedor. Na minha opinião, os conceitos de Mentorship & Sponsorship são fundamentais para a construção de seres humanos mais felizes e capacitados para o exercício das atividades de liderar suas vidas. 

As desigualdades de gênero são questões sociais que devem ser discutidas, dentro e fora das organizações.

Finalizando esta análise, conforme o site da ONU Mulher, a participação do homem no processo de redução das desigualdades de gênero é fundamental. Não vamos construir ambientes mais receptivos às mulheres em nossas empresas se não tivermos o apoio de homens e de mulheres. Não vamos construir ambientes familiares se não tivermos a participação de todos os integrantes da casa, mães, pais, companheiros, companheiras, filhos e filhas, principalmente nas atividades de cuidado e serviço doméstico. Portanto, colocar em prática o Mentorship &Sponsorship, sem considerar a participação de todos os envolvidos será ineficiente.

Lembre-se disso: precisamos ter equilíbrio entre as forças femininas e masculinas em nossa sociedade e em nossos ambientes organizacionais e empreendedores. Acredito que essa sinergia seja uma forma positiva na geração de políticas públicas que garantam, à mulher, os mesmos direitos dos homens em suas jornadas profissionais de liderança.