Coffee and Work

Olá, tudo bem? Como vão as coisas por aí?

Aqui, tudo sob controle. Talvez você esteja estranhando a abordagem dessa abertura. Bem, o texto de hoje é em formato de carta, aquela coisa que a gente mandava pelo correio, tinha que esperar chegar na casa da outra pessoa e – olha só! – aguardar pacientemente uma resposta.

Lá nos anos 1990, eu tinha uma amiga em Guaporé, a Carol, com quem eu trocava cartas. Mas eram longas cartas, de 15 a 20 páginas, escritas a mão, no melhor modelo scrapbook. Tinha recortes de palavras, de fotos dos artistas gatos da época, muita caneta, canetinha, desenhos… Era como um diário escrito para outra pessoa: cada carta demorava semanas para ser escrita, era atualizada diariamente, até ser enviada. Usando palavras de hoje, a escrita era síncrona. Eu enviava hoje e já começava a escrever a próxima; e ela escrevia a dela ao mesmo tempo. Aí recebia a minha, respondia o que eu tinha perguntado ou contado, incluía as escritas de “antes”, aguardava dias ou semanas (que demandavam mais atualizações) e mandava a dela. Assim convivemos por anos, podendo conversar por telefone raramente – o pulso era caro, alguns devem lembrar.

E por que estou contando isso? Porque essa prática demandava algo que hoje não temos mais: paciência. Havia o tempo de espera. As mensagens não precisavam ser respondidas em segundos. E demorar não era descaso, era o tempo da coisa. Eu sinto que havia uma maturação, uma reflexão diferente. Às vezes o que eu tinha escrito lá no começo da carta já não tinha mais validade no final. Porque eu mudava, eu olhava “de fora” para o que tinha colocado no papel semanas antes.

Hoje, as mensagens chegam por diferentes canais e plataformas, o tempo todo. E nos exigem respostas imediatas, à jato. Temos tempo de refletir, de maturar as ideias? Normalmente não. Nos exigem insights, criatividade, disponibilidade e conhecimento sobre tudo o tempo todo. Inclusive sábados, domingos e feriados. O.o Mas quem funciona assim?

Fonte: Pixabay

“Para não ser substituído por um robô, não seja um robô.”

Acredito que essa frase da Martha Gabriel super se encaixe com esse ponto do texto. Precisamos deixar a nossa humanidade transparecer. Você não precisa estar presente de forma automatizada (ou seja, recebendo mensagens e respondendo instantaneamente). Você não precisa saber a resposta certa imediatamente e o tempo todo – ou seja, pode ter dúvidas.

 

É importante não só expor, mas também aceitar, essa humanidade que nos constitui, pois é ela que permite e mantém as nossas relações com as outras pessoas, que gera a tão necessária identificação que torna a comunicação mais efetiva. Reconhecer o outro com quem falamos e saber que ele é como nós, humano, deveria tornar essa relação mais empática. Ou seja, não cobraríamos do outro o que não queremos que cobrem da gente.

 

E indo além das relações com o outro, temos que pensar na relação com o nosso corpo e mente: nesse estilo de vida altamente conectado, automatizado e onipresente, a “capacidade física e mental começa a ficar debilitada, cansada, com estresse em fase aguda, o que afeta a mente, o psicológico e o corpo literalmente adoece, pois toda essa situação diminui a imunidade”, afirma a psicóloga do Hapvida Saúde, Lívia Vieira, em texto publicado no site da ANAMT.

 

Atualmente, 30% dos trabalhadores brasileiros têm síndrome de Burnout (conhecida como a síndrome do esgotamento profissional), indica a ANAMT. E aqui eu não quero por toda a culpa no trabalho. Apesar de a prática profissional e os revéses relacionados a ela (aqui dá pra ler mais sobre isso) impactarem diretamente na nossa saúde física e mental, acredito que as práticas e cobranças que nos fazemos o tempo todo e que muitas vezes não tem relação com o que paga nossos boletos, resultam nesse esgotamento. Onde você está nesse rolê? Vamos parar pra pensar sobre isso!

 

Bem, por hoje era isso. Ah, antes que eu esqueça: dê-se mais tempo, pare, respire, dê limites (as outras pessoas) e estabeleça comportamentos que ajudem você a ter mais qualidade de vida e a sair dessa engrenagem que chamamos de always on. 

por Poli Lopes – Jornalista por formação, sou criadora de conteúdo para web na Poli Lopes Produção de Conteúdo e professora de marketing digital. Também sou Doutora em Processos e Manifestações Culturais e pesquiso as relações entre redes sociais e cultura de massa, com foco nos sujeitos e seus discursos.